INTERCÂMBIO EM JULHO DE 2018

CONSEQUÊNCIAS AO ABANDONAR UMA CARREIRA PROMISSORA PARA VIVER UM INTERCÂMBIO EM DUBLIN

A decisão em abandonar uma carreira em ascensão na academia Smart Fit Brasil, para viver um hobby conhecido por intercâmbio de oito meses em Dublin, na Irlanda, foi uma escolha que moldou minha vida de uma maneira a qual eu jamais imaginaria seu desfecho.
Investi 50 mil reais, um valor significativo que cobriu todas as despesas com o intercâmbio na Egali em Belo Horizonte, passagens aéreas, acomodação, escola de idiomas Erin School e custos diários com alimentação e transporte durante a estadia na Irlanda.
Embora meu visto de estudos me permitisse trabalhar, optei por não fazê-lo. Esta decisão trouxe uma série de experiências, algumas desafiadoras e outras gratificantes, que compartilharei a seguir.
DESAFIO DA COMUNICAÇÃO EM INGLÊS
Um dos primeiros desafios que enfrentei foi a barreira linguística. Apesar de ter frequentado cursos de inglês por mais de cinco anos, percebi que a teoria e a prática eram completamente diferentes, uma vez que nunca dediquei ao aprendizado do novo idioma.
Em várias situações, fiquei bloqueado ao tentar me comunicar. Lembro-me de momentos em que precisava pedir informações ou fazer compras e simplesmente não conseguia formular as frases corretas.
A solução se dava muitas vezes no improviso, permitindo que o interlocutor captasse a mensagem. Foi uma frustração palpável, e isso me fez sentir ainda mais ansioso e inseguro quanto o abandono do meu país e minhas responsabilidades profissionais.
UMA INUSITADA EXPERIÊNCIA COM O FLATMATE MÁRCIO
Uma das experiências mais inusitadas aconteceu quando meu flatmate, Márcio, me convidou para vivenciar um “cleaner” para um indiano em D12. A ideia era interessante, mas o que se seguiu foi uma verdadeira aventura.
Durante o trajeto, acabei perdendo meu celular no ônibus. A preocupação de Márcio com a situação era maior do que a minha. Ele insistiu em fazer uma busca exaustiva, e foi reconfortante ver o quanto ele se importava.
Essa situação acabou me ensinando sobre a honestidade das pessoas na Irlanda, pois, para minha surpresa, consegui recuperar meu celular. Um motorista devolveu o aparelho ao serviço de achados e perdidos, uma experiência que me fez admirar ainda mais a cultura local.
TRABALHANDO COMO KITCHEN PORTER
Após algumas semanas observando o desespero dos colegas flatmates para conseguirem novos trabalhos, decidi entrar na onda e experimentar uma das ofertas irlandesas.
Aceitei um emprego de Kitchen Porter em um grande hotel de Dublin. No entanto, essa experiência foi tudo menos positiva. Trabalhar aos finais de semana era divertido, e o ambiente de trabalho, embora dinâmico, tornou-se estressante devido à convivência com um colega mexicano.
Nossas diferenças culturais e de comunicação tornaram o trabalho muito desafiador, e percebi que a pressão do emprego estava longe de ser recompensadora, embora o ordenado fosse significativo para a função. Optei por voltar aos planos iniciais abandonando a ideia de trabalhar e contive-me permanecendo na escola e em casa.
A BOA EXPERIÊNCIA COM OS COLEGAS BRASILEIROS
Apesar dos desafios, tive a sorte de estar com bons amigos brasileiros durante o intercâmbio.

Uma das melhores experiências foi quando os colegas do Luziana Lanna e eu decidimos visitar os Cliffs, viajando de trem e uma boa caminhada até o paraíso.

A beleza natural do lugar e a companhia dos amigos tornaram o passeio inesquecível. Juntos, compartilhamos risadas, histórias e, acima de tudo, um sentimento de pertencimento que tornou a experiência ainda mais especial.
A COMPETIÇÃO DE QUEM COMoIA MAIS FRANGO. (BEST CHICKEN WINGS IN DUBLIN)
Uma das memórias mais divertidas foi a participação em uma competição para devorar a maior porção de frango no tempo exato de cinco minutos, se eu não estiver enganado. Só sei que foi cronometrado.
A energia e o entusiasmo do grupo foram contagiantes. E para minha surpresa, acabei vencendo a competição. Essa experiência não apenas me proporcionou boas risadas, mas também fortaleceu os laços com meus amigos, tornando o intercâmbio mais divertido e memorável.
A CONVIVÊNCIA NA CASA COMPARTILHADA
A vida na casa compartilhada foi minha primeira experiência à parte. Era estranho um grupo de desconhecidos viverem como família. Dividíamos o espaço com nove pessoas, sendo cinco rapazes e quatro moças.
A casa tinha quatro quartos, sendo dois bem pequenos e dois médios. Uma cozinha conjugada com a sala e dois banheiros também pequenos, muito comum na maioria das moradias da Europa com custo acessível a intercambistas e imigrantes.
Próximo à cozinha, no primeiro andar, Aline e Jéssica dividiam o quarto comigo, enquanto Márcio e Diego compartilhavam o menor dos quartos.
Ribamar e Michele com uma relação estável, era um casal que ocupava o quarto médio no segundo andar, e Antônio e Emanuelle, ambos bons amigos, se apropriaram do último com tamanho menor. O mais estranho nessa experiência foi o fato de que em todos os quartos só cabia uma cama. Assim éramos nos adaptávamos às condições que tínhamos.
Na cozinha, o espaço para armazenamento dos mantimentos também era reduzido, sendo a geladeira a mais problemática para compartilharmos.
Cada semana, as tarefas da casa eram distribuídas entre duplas, e todos colaboravam para manter o lugar limpo e organizado.
Na cozinha, cada um preparava suas próprias refeições, exceto nos dias em que nos reuníamos para um banquete, onde compartilhávamos pizzas, contávamos histórias, ouvíamos músicas e participávamos de jogos para a memória.
UMA DECEPÇÃO QUE LEVOU AO ABANDONO DO INTERCÂMBIO
Após cinco meses, percebi o náufrago do meu intercâmbio. O interesse nas aulas acabara e o aprendizado estava longe do minimo aceitável.
Nestas condições, atender às minhas expectativas em direção à fluência seria impossível em tão pouco tempo embora tivera tido experiências positivas, a dificuldade em me comunicar e o estresse para compreender a orientação nas aulas pesaram na minha decisão.
Assim, decidi migrar para Portugal, onde estou vivendo há seis anos. A mudança foi desafiadora, mas gratificante do ponto de vista financeiro e cultural.
DESASTRE NO AEROPORTO
Pela segunda vez na vida logrei perder um vôo. Uma no Brasil e outra na Irlanda. Coisas que só acontece comigo.
No aeroporto, distraí-me e perdi meu voo. Isso significou ser necessário comprar um novo bilhete e me contentar ficar 23 horas aguardando o próximo voo.
Essa experiência foi extremamente cansativa, mas, ao mesmo tempo, me deu a oportunidade de refletir sobre minhas escolhas e o que realmente eu deveria fazer da vida.
Embora a vontade de voltar para o Brasil fora maior, a vergonha por ter fracassado me induziu permanecer na Europa por pelo menos um ano mais, uma vez que se tivesse regressado, jamais sairía ao estrangeiro novamente.
FACILIDADE NA RESOLUÇÃO DE QUESTÕES DOCUMENTAIS NA IRLANDA
Uma coisa que eu notei durante meu tempo na Irlanda foi a facilidade em resolver questões relacionadas a documentos, mesmo sem conseguir me comunicar perfeitamente em inglês.
O destino parecia estar a meu favor, pois sempre encontrava pessoas dispostas a informar o que fazer e onde. Além disso, esclareciam minhas dúvidas, antes mesmo de eu a tê-las, facilitando minha adaptação e resolução de problemas.
Sem contar que os atendimentos foram muito simples em relação aos transtornos que meus conhecimentos enfrentaram. Tanto o visto para estudante quanto o PPS number foram conquistados facilmente sem burocracia alguma.
A CONCLUSÃO QUE TIREI DESTA DECISÃO
Abandonar minha carreira na Smart Fit para viver um intercâmbio em Dublin foi uma decisão que trouxe consigo uma montanha-russa de emoções e experiências.
Embora tenha enfrentado desafios significativos na comunicação e no trabalho, também fiz amigos, vivi aventuras e aprendi lições valiosas sobre a vida.
Cada experiência, seja boa ou ruim, contribuiu para meu crescimento pessoal e profissional, e sou grato por cada uma delas.
Hoje, ao olhar para trás, percebo que cada passo, mesmo os mais difíceis, foram essenciais na construção do meu caminho.
E só sei a parte que vivivenciei ser boa ou ruim após ter perdido em comparação ao que havia vivido antes.

Este artigo foi escrito com base em fatos reais vividos pelo autor Emerson Augusto Rosa entre julho e dezembro de 2018.